segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Baixo Astral | Alberto Fuguet

Nunca tinha ouvido falar de Alberto Fuguet até encontrar este seu "Baixo Astral" ("Mala Onda" no original), num balcão da Feira do Livro, a 5 reais. Como ninguém teve ainda a iniciativa de disponibilizar um acesso à internet para darmos um Google nos livros que achamos por lá, dei uma folheada analítica daquelas. Resultado: 4 menções a cocaína, 3 a maconha, umas 10 a ficar bêbado e várias a Holden Caulfield. Vendido.

Fuguet - chileno, da geração que rejeita o folclore e o realismo fantástico, que se tornaram clichês da literatura andina - fez do livro uma semi-autobiografia (algo como um "Encontro Marcado" from hell), repassando os excessos de uma juventude chilena desiludida com a política em 1980, plena ditadura Pinochet. Após uma viagem dos sonhos ao Rio, Matías Vicuña, seu alter ego de 17 anos, se depara com uma Santiago de "mierda", cheia de nada para fazer entre um toque de recolher e outro, passando o tempo tentando preencher esse nada com muitas drogas, pisco, sexo, e o que dá pra achar de rock n' roll na américa latina dos anos 80.

E como se a referência indireta a Salinger não bastasse, com tanto questionamento existencial e inconformismo, Matias consegue, no meio da história, o "Apanhador no Campo de Centeio", que se torna imediatamente sua bíblia e Holden Caulfield seu melhor amigo e ídolo. 5 reais muito bem gastos.

Perto da Máquina | Ellen Ullman

Enfim a minha vida monótona de analista de sistemas, sem nenhuma graça ou glamour, é finalmente retratada em um livro. E o mais estranho, por uma mulher, gênero considerado avis rara nas cadeiras de ciências exatas (como se programar tivesse alguma coisa de ciência exata, tá mais pra alguma variação da quimbanda).


Nesta sua autobiografia, Ellen Ullman, que além de engenheira de software é bissexual assumida, colunista da Wired e ex-militante comunista, nos leva pelos meandros da construção de um sistema que só os iniciados do meio sabem como é. Os deadlines absurdos, as expectativas irreais dos usuários, como tudo parece ótimo na mesa de reunião e vira um caos completo sendo gerenciado somente pelos talentos individuais dos programadores, apos dezenas de mudanças de escopo em cima da hora. E não se engane, todo sistema é assim, do site da padaria da esquina ao gerenciador de compras internacionais do seu cartão VISA.

E tem mais, Ellen também abre os detalhes de sua relação breve com um anarco-hacker dedicado a implodir as fundações da economia mundial (só isso, bobagem!), além de várias considerações sobre a loucura do Silicon Valley. Pra quem é do ramo, leitura obrigatória.




sábado, 13 de outubro de 2007

Minhas Mulheres e Meus Homens | Mário Prata

O Mário Prata foi mais um dos meus "grandes achados tardios", um hábito que cultivo faz um tempo, de achar foda alguma coisa que tá todo mundo cansado de saber que é bom.

Neste livro inusitado Prata usou a sua bombada agenda telefônica e foi, letra por letra, pessoa por pessoa, contando um ou mais "causos" sobre todo aquele povo, famoso ou não (mais famoso do que não, na verdade). Além disso ainda transformou a leitura num exercício interessante, oferecendo ao leitor duas opções: ler o livro como foi impresso, na ordem alfabética, ou usar o índice cronológico e acompanhar os acontecimentos conforme a vida do cara vai passando. Como a recomendação do autor é pra que opte-se pela segunda opção, fui nessa e não me arrependi.

A infância bucólica no interior de São Paulo rapidamente dá lugar à uma cena cultural efervescente na capital, onde Mário viu e conviveu de perto com grande ídolos, ícones e sex symbols de toda uma geração - além dos saborosíssimos figurantes que não fazem feio nas suas pontas. Pra não alongar muito, pode cair dentro sem susto que o material é de prima, mas lá vão dois avisos importantes:

1) Evite ler em locais públicos, como metrô, fila de banco, etc. A chance de você cair na gargalhada e pagar mico é enorme. Dá uma vontade danada de citar os trechos mais perigosos, mas não sou spoiler.

2) O cara é parceirão do Chico e do Rubem Fonseca, além de ter comido uma infinidade de mulher gostosa. Você vai invejar o nosso caro Mário, é fato. Mas é uma inveja boa...

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Diário de um Fescenino | Rubem Fonseca

Se você desconhece quem é Rubem Fonseca, bom, não é aqui neste post que eu vou te apresentar ao cara. Ainda me lembro das noites sem dormir aos 13 ou 14 anos, por conta do soco na cara que é o Feliz Ano Novo.


Fonseca me apresentou a um submundo cínico, brutal e amargo, povoado de taras e vícios inconfessáveis, bem diferente dos cenários prosaicos da mineirada do Para Gostar de Ler, que era o meu feijão com arroz na época. E foi quem me viciou em livros sobre coisas feias, sujas e ruins.

Este Diário de um Fescenino mostra um autor afiado, destilando seu veneno, que se não é tão letal quanto em "Bufo & Spallanzani" e "O Caso Morel", dá um couro em coisas pau mole como a "Confraria dos Espadas" e outros livros dele que andaram saindo, todos meio aguados. Talvez seja o peso dos 80 anos... não vamos criticar o cara por isso, quero ver Mick Jagger ainda rebolar tanto quando chegar lá - se chegar.

Sobre a história: Rufus é um escritor que, enquanto encara a decadência literária, sofistica uma cafajestagem profissional de dar inveja a qualquer aspirante a Valadão, justificando suas putarias com um discurso, no mínimo, brilhante. Óbvio que o seu estilo de vida pimp só lhe traz problemas, não demorando pros crimes começarem e a trama ficar impossível de largar.

Fonsecão do bom. Não do melhor, mas do bom. E isso já vale os seus dinheiros.

Cabral Livros

Descobri em Botafogo a Cabral Livros, que fica perto da saída Mena Barreto do Metrô, na galeria do Horti Frutti. É a loja 121, um cubículo simpático com bastante papel pra roer, e precinho bom também.

A arrumação também chama a atenção, normalmente sebo tem livro jogado e mal empilhado pra todo canto, na Cabral Livros não, tá tudo organizado (talvez por causa do pouco espaço).

Passando por ali, vale a conferida.

terça-feira, 17 de julho de 2007

Minhas Histórias dos Outros | Zuenir Ventura

Zuenir nos traz, em seu livro de memórias, os episódios, dramas e curiosidades que testemunhou durante quase 50 anos de jornalismo. Se fosse outro escrevendo poderia ser um belo livro de cabeceira, daqueles sonolentos pra se usar quando acaba o Rivotril, mas não é o caso.


As lembranças do autor são vívidas, traçando um retrato da história brasileira contada por alguém que a vivenciou e percebeu intensamente, por conta de seu olho clínico essencial para a profissão e também por ser próximo de muitos de seus players mais importantes: De Gaulle, Darcy Ribeiro, a calcinha de Jackie Onassis, Betinho, Glauber, Rubem Fonseca, Nelson Rodrigues, João Salles e Márcio VP, Ditadura e Abertura desfilam pelas páginas do livro, ciceroneados pela boa prosa do cara.

Reservada para o final fica a surpreendente história de uma testemunha-chave da morte de Chico Mendes que Zuenir adota, infringindo uma lei básica do Clube da Luta jornalístico: somente reportar os acontecimentos, nunca interferir com eles.

EU S/A | Max Barry

O mundo que Max Barry criou em Eu S/A é um gigantesco pesadelo tirado da revista Exame. As corporações venceram de vez, tudo é controlado por elas. Tudo? Nem tudo. A França ainda resiste... Max não deixa claro se com ou sem poção mágica, mas com certeza a General Motors e a Coca-Cola são os novos romanos.

Gangues tatuam logomarcas pelo corpo e atacam quem prefere comprar nas lojas concorrentes. As crianças estudam em escolas Pepsi ou McDonald’s e os adultos tem como sobrenome a empresa onde trabalham. Caso você esteja desempregado, é um sem-teto excluído de toda e qualquer oportunidade ou direito. O governo dos Estados Americanos, uma entidade figurativa, cobra dos cidadãos até a investigação de crimes (no caso, quem banca tudo é a família da vítima. Sem grana, sem C.S.I.).

Nesse gigantesco free shop que a Terra virou, um executivo chamado John Nike elabora um plano genial: assassinar dez consumidores no dia do lançamento da nova linha de tênis da empresa para valorizá-la ao extremo. Para executar a ação de marketing (de guerrilha??), descobre o inseguro Hack Nike, um funcionário subalterno que se deixa intimidar fácil por um superior e acaba coagido a coordenar a campanha.

Acontece que Hack não é um assassino e apela para a terceirização, contratando profissionais da polícia pra fazer o trabalho sujo. Acaba dando tudo errado (isso foi em LA, se fosse no Rio, de repente...) e entra em cena Jennifer Governo, uma agente incorruptível que vai atrás dos culpados, mesmo que não tenha ninguém pagando pelo caso.

E já tá bom de resenha, compre logo o livro e aproveite para abandonar o programa Team Advantage e ganhar quinze por cento de desconto em todas as lojas afiliadas à US Alliance nos próximos dois meses.

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Minha Querida Sputnik | Haruki Murakami

Haruki Murakami é um dos mais aclamados escritores do Japão, tendo seus livros traduzidos em mais de 16 idiomas. Legal que o cara conseguiu todo esse cartaz fazendo literatura pop da boa, com um estilo mix de Nick Hornby / Geração Beat / Nelson Rodrigues / dramalhão de mangá.

Neste "Minha Querida Sputnik" temos a história de Sumire - uma japonesa adolescente altamente surtada - e quem nos relata a trama é K., seu melhor amigo e professor do primário japonês. A relação entre os dois é complexa, com Sumire perturbando um apaixonado K. com as suas indagações existenciais às três da manhã, escrevendo enormes histórias que nunca consegue terminar, aquela coisa nipo-neurótica.

A reviravolta acontece quando Sumire se apaixona por Miu, uma coreana balzaca, linda e sofisticada, que esconde uma história tenebrosa em seu passado, deixando o pobre K ainda mais chafurdado na lama do amor não correspondido.

O clima do livro passa do urbano pro bucólico e do papo-cabeça-cool pro surreal-com-suspense em poucas páginas, com cenários que transitam entre Japão, Paris e Itália, até o desfecho misterioso em uma desconhecida ilha grega.

Embora "Norwegian Wood" ainda seja o carro-chefe de Murakami, este com certeza é mais um ótimo livro que comprova a maestria em contar boas histórias do nosso caro japa best-seller.

domingo, 8 de julho de 2007

Má Influência | William Sutcliffe

A Editora Francis tem um catálogo interessante, pra dizer o mínimo, começando pelas obras do cara que dá nome ao negócio. Como resenhar livros do seu Paulo não está nos meus planos por enquanto, o assunto é este livro inglês que impressiona.

A história trata da relação entre dois garotos de dez anos, Ben e Olly, que são melhores amigos e moradores de um subúrbio de Londres. Tudo segue tranquilamente, até que Carl se muda para a rua deles. E Carl é mau, mau mesmo, além de um grande manipulador.

Daí pra diante é ladeira abaixo, com a história esgueirando-se pelo terreno pantanoso de até onde as crianças vão por conta de uma amizade - ou para não ser o "babacão" da turma. Quem não foi criado jogando bolinha de gude no carpete da vó sabe, alguém sempre se machuca. E quando Carl está envolvido, alguém se machuca e muito.

Aconselho começar a ler cedo, porque o clima tenso é mantido até o fim. No meu caso, quando vi já eram cinco da manhã, quase hora de acordar pra trabalhar...

sexta-feira, 29 de junho de 2007

O Homem do Castelo Alto | Philip K. Dick

Philip K. Dick, era, em suas próprias palavras, "um filósofo que faz ficção", e muitos consideram "O Homem do Castelo Alto" sua obra-prima. Ganhador do prêmio Hugo de melhor romance de Ficção Científica em 1962, deixou a marca e influência do autor em tudo o que foi criado posteriormente no gênero.


Sempre prezando mais as questões humanas que os cenários apocalípticos que criava, Dick nos conduz por um mundo onde as pessoas tentam sobreviver em uma realidade totalitária, onde o Eixo ganhou a Segunda Guerra e Japão e Alemanha dividiram o mundo conhecido.

Os judeus foram oficialmente exterminados, negros são escravos, japoneses lotearam os Estados Unidos e acabaram ganhando a simpatia de muitos americanos, dentro da política do menos pior (os nazistas são retratados como máquinas burocratas de aniquilar o próximo, coisa que os japas, cultivando sua milenar tradição de honra e etc., menosprezam). É interessante ler sobre yankees subjugados, incorporando hábitos orientais como consultar o I Ching e andar de bicitáxis, sem empurrar cultura enlatada pro resto do mundo.

Os destinos dos personagens vão aos poucos se entrelaçando, tendo como ponto convergente um misterioso livro proibido pelos nazis, que descreve como seria o mundo caso os Aliados tivessem vencido a guerra.

A trama permanece bem amarrada e magnetiza o leitor até o desfecho enigmático, onde fica no ar o que é real e o que é fictício, bem ao estilo Phillip K Dickiano. Após a última página fica claro o porquê do cara ser tão incensado mesmo nos dias de hoje, com sua mistura de drama, sci-fi da boa e realismo fantástico na mesma narrativa.

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Amor é Prosa, Sexo é Poesia | Arnaldo Jabor

O Jabor sempre tem pelo menos uma tirada no Jornal da Globo que provoca um risinho meio de lado, aquela satisfação por ter ouvido algo mordaz, bem sacado. Mas depois a gente escova os dentes, deita, dorme e esquece que ele existe.

Nesse livro soporífero rola a mesma sensação: enquanto vamos lendo ele até se sustenta, algumas tiradas ferinas tratando com humor refinado as mazelas homem-mulher, na maioria dos casos vivências do próprio autor.

Mas quando terminamos a última página, escovamos os dentes, deitamos, dormimos e esquecemos. Saudosista demais, meloso demais. Enfim, dispensável.


quinta-feira, 21 de junho de 2007

Futuro Proibido | Coletânea

Impossível bater os olhos nessa coletânea de contos e não ir direto pro caixa da livraria. A idéia dos organizadores era que os escritores selecionados mandassem somente os seus contos mais cabeludos, aqueles que todos os editores se recusaram a publicar. Com certeza não ia dar em nenhuma historinha estilo Disney, mas no fim das contas não tem nada que seja perturbador demais ou coisa assim. Mas é literatura anarco-cyber-porra-louca de primeira.


E tome pesos-pesados como William Burroughs representando os beats, William Gibson, Rudy Rucker e Bruce Sterling jogando pelo time Cyberpunk - se bem que drogas sintéticas e parafernália techie só no conto do segundo, Gibson focou na paranóia em seu "Parasita Cerebral do Chapéu Hippie" e Sterling preferiu assustar os ianques com "Vemos as Coisas de um Modo Diferente", mostrando um futuro onde o Islã vence a guerra contra o Ocidente. Também temos J.G. Ballard (autor de "Crash" e "Império do Sol") com o conto mais ficção-científica-normal do livro, o ótimo "Relatório sobre uma Estação Espacial Não-Identificada".

Isso fora um monte de gente boa e com pedigree do udigrudi americano, colagens, poemas, ilustrações do Mike Saenz (lembra da graphic Novel "Crash", do Homem de Ferro?), além de uma bibliografia em português dos poucos autores da coleta que tiveram algo publicado na língua de Camões. Arrume o seu e prepare o molotov.

terça-feira, 19 de junho de 2007

Diário de Um Magro | Mário Prata

No Diário de um Magro Mário Prata relata suas aventuras em um spa de SP, acompanhando o também escritor Fernando Morais, que precisava de companhia para perder uns quilos e levou o esbelto Mário à tiracolo.

O estilo do livro é muito ágil, com mini-capítulos (lembram posts em um blog, aliás), que além das histórias hilárias do spa tem algumas citações de músicas e textos do Ministério da Saúde, que, de alguma forma inusitada, fazem sentido no contexto geral.


Além de observar e descrever hábitos e derrotas de pessoas obesas (imagine comer igual a um porco e de repente se deparar com uma dura realidade de refeições com 20 calorias), Mário ainda percebeu que uma vida "careta" pode ser bacana. Mas também, o cara confessa que bebia meia garrafa de uísque e dez latas de cerveja por dia...

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Beta de Aquarius

Segue o nome e o endereço do sebo-chique perto da Rua do Catete que comentei num dos primeiros posts:

Beta de Aquarius
R. Buarque de Macedo, 72
Catete - Rio de Janeiro - RJ
tel: 2556-1213
http://www.betaqdeaquarius.com.br/

Muito bacana o clima, tem realmente um gato simpático lá que vive deitado em cima dos livros, que nem no logotipo. E deve ser do mesmo dono da Casa da Cultura, já que a sacola tem o endereço das duas livrarias :)

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Caçador de Andróides | Philip K. Dick

Dizem que "O Caçador de Andróides" não é o melhor livro de Philip K. Dick, então fico assombrado pensando o que diabo ele escreveu nos outros (estou com "O Homem do Castelo Alto" na fila, breve uma prova dos nove).

O sujeito criou sua própria versão de futuro em 1980, concebendo um 1992 que sombriamente se parece bastante com o nosso século 21, com o clima dark-pós-tudo que virou standard na ficção científica.

Temos grandes corporações no controle, cidades opressivas e meio ambiente devastado, sem contar o culto a Mercer, que não foi citado no filme de Ridley Scott mas é altamente importante na história: um messias que você cultua conectando-se a uma via crucis virtual, sofrendo junto com outros fiéis do mundo todo. Todo mundo online interagindo, te lembra algo?

E como eu nunca vi resenha de livro sem uma palhinha da história, lá vai, pra você que saiu de um coma de 30 anos agora e não viu nem o filme:

Rick Deckard é um caçador de recompensas em um mundo destruído pela 3ª guerra mundial, e seus alvos são andróides Nexus-6 - máquinas perfeitas, quase humanos - que trabalham em colônias interplanetárias mas insistem em entrar ilegalmente na Terra. Sua meta é juntar dinheiro suficiente para comprar um animal vivo, um enorme símbolo de status em um mundo que aniquilou quase todos. Enquanto isso, finge alimentar uma ovelha robótica de estimação, que quando dá defeito é mandada para o conserto em uma falsa ambulância veterinária, pra não pegar mal com a vizinhança - afinal, animais sintéticos são de grande mau gosto.

O mundo acabando e as pessoas mais preocupadas com as aparências? Outra previsão do futuro acertada.

E se Deckard era ou não um replicante? Se andróides sonham com ovelhas elétricas? Vá ler o livro que isso aqui não é blog de spoiler.

O Gosto da Guerra | José Hamilton Ribeiro

Todo mundo já sabe que José Hamilton Ribeiro não é só aquele repórter coroa estilo Léo batista que apresenta o Globo Rural. O cara é casca-grossa, ganhou sete prêmios Esso, virou capa da Trip, perdeu perna no Vietnã.


A Objetiva mandou bem reeditando o livro que conta toda a odisséia do cara na guerra, que tinha sido lançado em 1969 e estava há décadas esgotado. O texto é econômico e envolvente, e chato mesmo é que o livro é fino demais, mal começa já acabou.

Mas o trecho da fatídica pisada na mina é adrenalina pura, impossível não prender a respiração na hora H. Se até aí havia alguma euforia em acompanhar os relatos de um repórter cheio de disposição cobrindo a guerra, o horror da mutilação e a rotina do hospital (foram onze cirurgias) põe por terra qualquer glamourização possível do conflito. Por fim ainda temos um extra, a volta do jornalista ao Vietnã, 30 anos depois.

Mais um que vale ter na estante e desperta a curiosidade sobre os outros livros da Coleção Jornalismo de Guerra, lançada pela editora.

Segue uma entrevista com o José Hamilton publicada no Rabisco.

Pra fechar, uma frase do autor: “Guerra é ruim, mas sem alguém a escrever sobre ela, é muito pior”.

O Clube dos Corações Solitários | André Takeda

Sabe a tal Snack Culture que a Wired inventou? Então, André Takeda faz Snack Culture. Um livro dele é meio que um pacote de Cheetos, você não sabe bem porque está comendo, e no fundo rola um remorso porque poderia estar ingerindo algo mais saudável e nutritivo, mas mesmo assim come até a última bolota (ou tubinho, etc.) do pacote porque o troço tem um gosto bom pra valer.


"O Clube dos Corações Solitários" surgiu num e-zine das antigas editado pelo próprio Takeda, o TXTmagazine, e foi tão popular que a Conrad, antenada como sempre, foi lá e assinou com o cara, lançando o livro em "papel e osso" no ano de 2002.

A história é Nick Hornby na veia, mas adaptado pra realidade indie-brazuca. O garoto-mas-não-tão-garoto-assim Spit toma um pé na bunda e fica mal, o que se torna o pano de fundo pra tudo acontecer: Tem beijo roubado, pop rock do bom (Pixies, Pavement, Nirvana, REM), melancolia, lésbicas, guitarras e muita, muita bebida. Dá pra ficar de porre só de ler. Enfim, é um monte de revolta pós-adolescente do tipo que faz a nossa alegria literária desde que Holden Caulfield foi expulso de Pencey Prep.

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Marley & Eu | John Grogan

Tenho um baita preconceito com best-seller. Até hoje sinto pontadas de culpa por não ter achado "O Código Da Vinci" um livro tão ruim.


Mas o Marley... bom, o Marley foi a vingança de todos eles, Sidney Sheldon, Dan Brown, Paulo Coelho, Tom Clancy... bicho safado.

Comecei a folhear o livro - que apareceu na minha mão por acaso - com aquele meu ar default de desprezo. Mas página aqui, página ali, acabei fisgado pelo papo casual do autor, que esbanja na ironia e leva a história num ritmo OK, embora mantenha aquela dose de ingenuidade cuti-cuti que incomoda leitores rabugentos que nem eu.

Ou seja, deixei de lado o controle de qualidade e fui em frente: aí já era. Como assim, um labrador de 50kg com DDA e ataques de pânico? Cada caso surreal, de comer caixa de som até entortar gaiola de barras de ferro - uma ótima razão para nunca nem pensar em ter um cachorro, mandamento que sigo até hoje muito feliz.

Mas aí o tempo vai passando, e conforme Marley vai envelhecendo e fazendo altos sacrifícios para agradar os donos mesmo todo entrevado, a parada pega.

Quanto ao grand finale, não vou contar, mas esse suburbano metido a mau aqui acabou derramando uma ou duas lágrimas sentidas, proeza que só mais uns dois livros na vida também conseguiram (um deles foi a "Revolução dos Bichos", será algum fraco por animais se ferrando?).

Obviamente, não vi o filme.