sexta-feira, 20 de julho de 2007

Diário de um Fescenino | Rubem Fonseca

Se você desconhece quem é Rubem Fonseca, bom, não é aqui neste post que eu vou te apresentar ao cara. Ainda me lembro das noites sem dormir aos 13 ou 14 anos, por conta do soco na cara que é o Feliz Ano Novo.


Fonseca me apresentou a um submundo cínico, brutal e amargo, povoado de taras e vícios inconfessáveis, bem diferente dos cenários prosaicos da mineirada do Para Gostar de Ler, que era o meu feijão com arroz na época. E foi quem me viciou em livros sobre coisas feias, sujas e ruins.

Este Diário de um Fescenino mostra um autor afiado, destilando seu veneno, que se não é tão letal quanto em "Bufo & Spallanzani" e "O Caso Morel", dá um couro em coisas pau mole como a "Confraria dos Espadas" e outros livros dele que andaram saindo, todos meio aguados. Talvez seja o peso dos 80 anos... não vamos criticar o cara por isso, quero ver Mick Jagger ainda rebolar tanto quando chegar lá - se chegar.

Sobre a história: Rufus é um escritor que, enquanto encara a decadência literária, sofistica uma cafajestagem profissional de dar inveja a qualquer aspirante a Valadão, justificando suas putarias com um discurso, no mínimo, brilhante. Óbvio que o seu estilo de vida pimp só lhe traz problemas, não demorando pros crimes começarem e a trama ficar impossível de largar.

Fonsecão do bom. Não do melhor, mas do bom. E isso já vale os seus dinheiros.

Cabral Livros

Descobri em Botafogo a Cabral Livros, que fica perto da saída Mena Barreto do Metrô, na galeria do Horti Frutti. É a loja 121, um cubículo simpático com bastante papel pra roer, e precinho bom também.

A arrumação também chama a atenção, normalmente sebo tem livro jogado e mal empilhado pra todo canto, na Cabral Livros não, tá tudo organizado (talvez por causa do pouco espaço).

Passando por ali, vale a conferida.

terça-feira, 17 de julho de 2007

Minhas Histórias dos Outros | Zuenir Ventura

Zuenir nos traz, em seu livro de memórias, os episódios, dramas e curiosidades que testemunhou durante quase 50 anos de jornalismo. Se fosse outro escrevendo poderia ser um belo livro de cabeceira, daqueles sonolentos pra se usar quando acaba o Rivotril, mas não é o caso.


As lembranças do autor são vívidas, traçando um retrato da história brasileira contada por alguém que a vivenciou e percebeu intensamente, por conta de seu olho clínico essencial para a profissão e também por ser próximo de muitos de seus players mais importantes: De Gaulle, Darcy Ribeiro, a calcinha de Jackie Onassis, Betinho, Glauber, Rubem Fonseca, Nelson Rodrigues, João Salles e Márcio VP, Ditadura e Abertura desfilam pelas páginas do livro, ciceroneados pela boa prosa do cara.

Reservada para o final fica a surpreendente história de uma testemunha-chave da morte de Chico Mendes que Zuenir adota, infringindo uma lei básica do Clube da Luta jornalístico: somente reportar os acontecimentos, nunca interferir com eles.

EU S/A | Max Barry

O mundo que Max Barry criou em Eu S/A é um gigantesco pesadelo tirado da revista Exame. As corporações venceram de vez, tudo é controlado por elas. Tudo? Nem tudo. A França ainda resiste... Max não deixa claro se com ou sem poção mágica, mas com certeza a General Motors e a Coca-Cola são os novos romanos.

Gangues tatuam logomarcas pelo corpo e atacam quem prefere comprar nas lojas concorrentes. As crianças estudam em escolas Pepsi ou McDonald’s e os adultos tem como sobrenome a empresa onde trabalham. Caso você esteja desempregado, é um sem-teto excluído de toda e qualquer oportunidade ou direito. O governo dos Estados Americanos, uma entidade figurativa, cobra dos cidadãos até a investigação de crimes (no caso, quem banca tudo é a família da vítima. Sem grana, sem C.S.I.).

Nesse gigantesco free shop que a Terra virou, um executivo chamado John Nike elabora um plano genial: assassinar dez consumidores no dia do lançamento da nova linha de tênis da empresa para valorizá-la ao extremo. Para executar a ação de marketing (de guerrilha??), descobre o inseguro Hack Nike, um funcionário subalterno que se deixa intimidar fácil por um superior e acaba coagido a coordenar a campanha.

Acontece que Hack não é um assassino e apela para a terceirização, contratando profissionais da polícia pra fazer o trabalho sujo. Acaba dando tudo errado (isso foi em LA, se fosse no Rio, de repente...) e entra em cena Jennifer Governo, uma agente incorruptível que vai atrás dos culpados, mesmo que não tenha ninguém pagando pelo caso.

E já tá bom de resenha, compre logo o livro e aproveite para abandonar o programa Team Advantage e ganhar quinze por cento de desconto em todas as lojas afiliadas à US Alliance nos próximos dois meses.

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Minha Querida Sputnik | Haruki Murakami

Haruki Murakami é um dos mais aclamados escritores do Japão, tendo seus livros traduzidos em mais de 16 idiomas. Legal que o cara conseguiu todo esse cartaz fazendo literatura pop da boa, com um estilo mix de Nick Hornby / Geração Beat / Nelson Rodrigues / dramalhão de mangá.

Neste "Minha Querida Sputnik" temos a história de Sumire - uma japonesa adolescente altamente surtada - e quem nos relata a trama é K., seu melhor amigo e professor do primário japonês. A relação entre os dois é complexa, com Sumire perturbando um apaixonado K. com as suas indagações existenciais às três da manhã, escrevendo enormes histórias que nunca consegue terminar, aquela coisa nipo-neurótica.

A reviravolta acontece quando Sumire se apaixona por Miu, uma coreana balzaca, linda e sofisticada, que esconde uma história tenebrosa em seu passado, deixando o pobre K ainda mais chafurdado na lama do amor não correspondido.

O clima do livro passa do urbano pro bucólico e do papo-cabeça-cool pro surreal-com-suspense em poucas páginas, com cenários que transitam entre Japão, Paris e Itália, até o desfecho misterioso em uma desconhecida ilha grega.

Embora "Norwegian Wood" ainda seja o carro-chefe de Murakami, este com certeza é mais um ótimo livro que comprova a maestria em contar boas histórias do nosso caro japa best-seller.

domingo, 8 de julho de 2007

Má Influência | William Sutcliffe

A Editora Francis tem um catálogo interessante, pra dizer o mínimo, começando pelas obras do cara que dá nome ao negócio. Como resenhar livros do seu Paulo não está nos meus planos por enquanto, o assunto é este livro inglês que impressiona.

A história trata da relação entre dois garotos de dez anos, Ben e Olly, que são melhores amigos e moradores de um subúrbio de Londres. Tudo segue tranquilamente, até que Carl se muda para a rua deles. E Carl é mau, mau mesmo, além de um grande manipulador.

Daí pra diante é ladeira abaixo, com a história esgueirando-se pelo terreno pantanoso de até onde as crianças vão por conta de uma amizade - ou para não ser o "babacão" da turma. Quem não foi criado jogando bolinha de gude no carpete da vó sabe, alguém sempre se machuca. E quando Carl está envolvido, alguém se machuca e muito.

Aconselho começar a ler cedo, porque o clima tenso é mantido até o fim. No meu caso, quando vi já eram cinco da manhã, quase hora de acordar pra trabalhar...