sexta-feira, 29 de junho de 2007

O Homem do Castelo Alto | Philip K. Dick

Philip K. Dick, era, em suas próprias palavras, "um filósofo que faz ficção", e muitos consideram "O Homem do Castelo Alto" sua obra-prima. Ganhador do prêmio Hugo de melhor romance de Ficção Científica em 1962, deixou a marca e influência do autor em tudo o que foi criado posteriormente no gênero.


Sempre prezando mais as questões humanas que os cenários apocalípticos que criava, Dick nos conduz por um mundo onde as pessoas tentam sobreviver em uma realidade totalitária, onde o Eixo ganhou a Segunda Guerra e Japão e Alemanha dividiram o mundo conhecido.

Os judeus foram oficialmente exterminados, negros são escravos, japoneses lotearam os Estados Unidos e acabaram ganhando a simpatia de muitos americanos, dentro da política do menos pior (os nazistas são retratados como máquinas burocratas de aniquilar o próximo, coisa que os japas, cultivando sua milenar tradição de honra e etc., menosprezam). É interessante ler sobre yankees subjugados, incorporando hábitos orientais como consultar o I Ching e andar de bicitáxis, sem empurrar cultura enlatada pro resto do mundo.

Os destinos dos personagens vão aos poucos se entrelaçando, tendo como ponto convergente um misterioso livro proibido pelos nazis, que descreve como seria o mundo caso os Aliados tivessem vencido a guerra.

A trama permanece bem amarrada e magnetiza o leitor até o desfecho enigmático, onde fica no ar o que é real e o que é fictício, bem ao estilo Phillip K Dickiano. Após a última página fica claro o porquê do cara ser tão incensado mesmo nos dias de hoje, com sua mistura de drama, sci-fi da boa e realismo fantástico na mesma narrativa.

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Amor é Prosa, Sexo é Poesia | Arnaldo Jabor

O Jabor sempre tem pelo menos uma tirada no Jornal da Globo que provoca um risinho meio de lado, aquela satisfação por ter ouvido algo mordaz, bem sacado. Mas depois a gente escova os dentes, deita, dorme e esquece que ele existe.

Nesse livro soporífero rola a mesma sensação: enquanto vamos lendo ele até se sustenta, algumas tiradas ferinas tratando com humor refinado as mazelas homem-mulher, na maioria dos casos vivências do próprio autor.

Mas quando terminamos a última página, escovamos os dentes, deitamos, dormimos e esquecemos. Saudosista demais, meloso demais. Enfim, dispensável.


quinta-feira, 21 de junho de 2007

Futuro Proibido | Coletânea

Impossível bater os olhos nessa coletânea de contos e não ir direto pro caixa da livraria. A idéia dos organizadores era que os escritores selecionados mandassem somente os seus contos mais cabeludos, aqueles que todos os editores se recusaram a publicar. Com certeza não ia dar em nenhuma historinha estilo Disney, mas no fim das contas não tem nada que seja perturbador demais ou coisa assim. Mas é literatura anarco-cyber-porra-louca de primeira.


E tome pesos-pesados como William Burroughs representando os beats, William Gibson, Rudy Rucker e Bruce Sterling jogando pelo time Cyberpunk - se bem que drogas sintéticas e parafernália techie só no conto do segundo, Gibson focou na paranóia em seu "Parasita Cerebral do Chapéu Hippie" e Sterling preferiu assustar os ianques com "Vemos as Coisas de um Modo Diferente", mostrando um futuro onde o Islã vence a guerra contra o Ocidente. Também temos J.G. Ballard (autor de "Crash" e "Império do Sol") com o conto mais ficção-científica-normal do livro, o ótimo "Relatório sobre uma Estação Espacial Não-Identificada".

Isso fora um monte de gente boa e com pedigree do udigrudi americano, colagens, poemas, ilustrações do Mike Saenz (lembra da graphic Novel "Crash", do Homem de Ferro?), além de uma bibliografia em português dos poucos autores da coleta que tiveram algo publicado na língua de Camões. Arrume o seu e prepare o molotov.

terça-feira, 19 de junho de 2007

Diário de Um Magro | Mário Prata

No Diário de um Magro Mário Prata relata suas aventuras em um spa de SP, acompanhando o também escritor Fernando Morais, que precisava de companhia para perder uns quilos e levou o esbelto Mário à tiracolo.

O estilo do livro é muito ágil, com mini-capítulos (lembram posts em um blog, aliás), que além das histórias hilárias do spa tem algumas citações de músicas e textos do Ministério da Saúde, que, de alguma forma inusitada, fazem sentido no contexto geral.


Além de observar e descrever hábitos e derrotas de pessoas obesas (imagine comer igual a um porco e de repente se deparar com uma dura realidade de refeições com 20 calorias), Mário ainda percebeu que uma vida "careta" pode ser bacana. Mas também, o cara confessa que bebia meia garrafa de uísque e dez latas de cerveja por dia...

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Beta de Aquarius

Segue o nome e o endereço do sebo-chique perto da Rua do Catete que comentei num dos primeiros posts:

Beta de Aquarius
R. Buarque de Macedo, 72
Catete - Rio de Janeiro - RJ
tel: 2556-1213
http://www.betaqdeaquarius.com.br/

Muito bacana o clima, tem realmente um gato simpático lá que vive deitado em cima dos livros, que nem no logotipo. E deve ser do mesmo dono da Casa da Cultura, já que a sacola tem o endereço das duas livrarias :)

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Caçador de Andróides | Philip K. Dick

Dizem que "O Caçador de Andróides" não é o melhor livro de Philip K. Dick, então fico assombrado pensando o que diabo ele escreveu nos outros (estou com "O Homem do Castelo Alto" na fila, breve uma prova dos nove).

O sujeito criou sua própria versão de futuro em 1980, concebendo um 1992 que sombriamente se parece bastante com o nosso século 21, com o clima dark-pós-tudo que virou standard na ficção científica.

Temos grandes corporações no controle, cidades opressivas e meio ambiente devastado, sem contar o culto a Mercer, que não foi citado no filme de Ridley Scott mas é altamente importante na história: um messias que você cultua conectando-se a uma via crucis virtual, sofrendo junto com outros fiéis do mundo todo. Todo mundo online interagindo, te lembra algo?

E como eu nunca vi resenha de livro sem uma palhinha da história, lá vai, pra você que saiu de um coma de 30 anos agora e não viu nem o filme:

Rick Deckard é um caçador de recompensas em um mundo destruído pela 3ª guerra mundial, e seus alvos são andróides Nexus-6 - máquinas perfeitas, quase humanos - que trabalham em colônias interplanetárias mas insistem em entrar ilegalmente na Terra. Sua meta é juntar dinheiro suficiente para comprar um animal vivo, um enorme símbolo de status em um mundo que aniquilou quase todos. Enquanto isso, finge alimentar uma ovelha robótica de estimação, que quando dá defeito é mandada para o conserto em uma falsa ambulância veterinária, pra não pegar mal com a vizinhança - afinal, animais sintéticos são de grande mau gosto.

O mundo acabando e as pessoas mais preocupadas com as aparências? Outra previsão do futuro acertada.

E se Deckard era ou não um replicante? Se andróides sonham com ovelhas elétricas? Vá ler o livro que isso aqui não é blog de spoiler.

O Gosto da Guerra | José Hamilton Ribeiro

Todo mundo já sabe que José Hamilton Ribeiro não é só aquele repórter coroa estilo Léo batista que apresenta o Globo Rural. O cara é casca-grossa, ganhou sete prêmios Esso, virou capa da Trip, perdeu perna no Vietnã.


A Objetiva mandou bem reeditando o livro que conta toda a odisséia do cara na guerra, que tinha sido lançado em 1969 e estava há décadas esgotado. O texto é econômico e envolvente, e chato mesmo é que o livro é fino demais, mal começa já acabou.

Mas o trecho da fatídica pisada na mina é adrenalina pura, impossível não prender a respiração na hora H. Se até aí havia alguma euforia em acompanhar os relatos de um repórter cheio de disposição cobrindo a guerra, o horror da mutilação e a rotina do hospital (foram onze cirurgias) põe por terra qualquer glamourização possível do conflito. Por fim ainda temos um extra, a volta do jornalista ao Vietnã, 30 anos depois.

Mais um que vale ter na estante e desperta a curiosidade sobre os outros livros da Coleção Jornalismo de Guerra, lançada pela editora.

Segue uma entrevista com o José Hamilton publicada no Rabisco.

Pra fechar, uma frase do autor: “Guerra é ruim, mas sem alguém a escrever sobre ela, é muito pior”.

O Clube dos Corações Solitários | André Takeda

Sabe a tal Snack Culture que a Wired inventou? Então, André Takeda faz Snack Culture. Um livro dele é meio que um pacote de Cheetos, você não sabe bem porque está comendo, e no fundo rola um remorso porque poderia estar ingerindo algo mais saudável e nutritivo, mas mesmo assim come até a última bolota (ou tubinho, etc.) do pacote porque o troço tem um gosto bom pra valer.


"O Clube dos Corações Solitários" surgiu num e-zine das antigas editado pelo próprio Takeda, o TXTmagazine, e foi tão popular que a Conrad, antenada como sempre, foi lá e assinou com o cara, lançando o livro em "papel e osso" no ano de 2002.

A história é Nick Hornby na veia, mas adaptado pra realidade indie-brazuca. O garoto-mas-não-tão-garoto-assim Spit toma um pé na bunda e fica mal, o que se torna o pano de fundo pra tudo acontecer: Tem beijo roubado, pop rock do bom (Pixies, Pavement, Nirvana, REM), melancolia, lésbicas, guitarras e muita, muita bebida. Dá pra ficar de porre só de ler. Enfim, é um monte de revolta pós-adolescente do tipo que faz a nossa alegria literária desde que Holden Caulfield foi expulso de Pencey Prep.

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Marley & Eu | John Grogan

Tenho um baita preconceito com best-seller. Até hoje sinto pontadas de culpa por não ter achado "O Código Da Vinci" um livro tão ruim.


Mas o Marley... bom, o Marley foi a vingança de todos eles, Sidney Sheldon, Dan Brown, Paulo Coelho, Tom Clancy... bicho safado.

Comecei a folhear o livro - que apareceu na minha mão por acaso - com aquele meu ar default de desprezo. Mas página aqui, página ali, acabei fisgado pelo papo casual do autor, que esbanja na ironia e leva a história num ritmo OK, embora mantenha aquela dose de ingenuidade cuti-cuti que incomoda leitores rabugentos que nem eu.

Ou seja, deixei de lado o controle de qualidade e fui em frente: aí já era. Como assim, um labrador de 50kg com DDA e ataques de pânico? Cada caso surreal, de comer caixa de som até entortar gaiola de barras de ferro - uma ótima razão para nunca nem pensar em ter um cachorro, mandamento que sigo até hoje muito feliz.

Mas aí o tempo vai passando, e conforme Marley vai envelhecendo e fazendo altos sacrifícios para agradar os donos mesmo todo entrevado, a parada pega.

Quanto ao grand finale, não vou contar, mas esse suburbano metido a mau aqui acabou derramando uma ou duas lágrimas sentidas, proeza que só mais uns dois livros na vida também conseguiram (um deles foi a "Revolução dos Bichos", será algum fraco por animais se ferrando?).

Obviamente, não vi o filme.