quinta-feira, 14 de junho de 2007

Caçador de Andróides | Philip K. Dick

Dizem que "O Caçador de Andróides" não é o melhor livro de Philip K. Dick, então fico assombrado pensando o que diabo ele escreveu nos outros (estou com "O Homem do Castelo Alto" na fila, breve uma prova dos nove).

O sujeito criou sua própria versão de futuro em 1980, concebendo um 1992 que sombriamente se parece bastante com o nosso século 21, com o clima dark-pós-tudo que virou standard na ficção científica.

Temos grandes corporações no controle, cidades opressivas e meio ambiente devastado, sem contar o culto a Mercer, que não foi citado no filme de Ridley Scott mas é altamente importante na história: um messias que você cultua conectando-se a uma via crucis virtual, sofrendo junto com outros fiéis do mundo todo. Todo mundo online interagindo, te lembra algo?

E como eu nunca vi resenha de livro sem uma palhinha da história, lá vai, pra você que saiu de um coma de 30 anos agora e não viu nem o filme:

Rick Deckard é um caçador de recompensas em um mundo destruído pela 3ª guerra mundial, e seus alvos são andróides Nexus-6 - máquinas perfeitas, quase humanos - que trabalham em colônias interplanetárias mas insistem em entrar ilegalmente na Terra. Sua meta é juntar dinheiro suficiente para comprar um animal vivo, um enorme símbolo de status em um mundo que aniquilou quase todos. Enquanto isso, finge alimentar uma ovelha robótica de estimação, que quando dá defeito é mandada para o conserto em uma falsa ambulância veterinária, pra não pegar mal com a vizinhança - afinal, animais sintéticos são de grande mau gosto.

O mundo acabando e as pessoas mais preocupadas com as aparências? Outra previsão do futuro acertada.

E se Deckard era ou não um replicante? Se andróides sonham com ovelhas elétricas? Vá ler o livro que isso aqui não é blog de spoiler.

Um comentário:

Anônimo disse...

Coincidências.

Recebi um email de uma amiga indicando o blog e de cara encontro a resenha do "Caçador de Androídes".

Comprei este livro na semana passada na Saraiva, versão pocket, em inglês, por 16 paus. Sem ofensas à lingüa pátria, vale a pena para treinar o seu inglês, pois a linguagem do livro é fácil e a estória curta. Até mesmo porque parece ser difícil encontrar a versão em português, pelo que vi no post do blog.

Estou lendo em doses homeopáticas, um capítulo por vez, antes de dormir, se o sono não me nocauteia antes. Com bastante lentidão, pois parte da graça está em comparar as diferenças entre o conto e o roteiro do filme Blade Runner. Elas são grandes e conferem ao livro um clima bem diferente do filme. Isso sem falar em algumas surpresas que guarda.

Aliás isso é uma constante quando se fala em livros que ganham as telonas ou de roteiros inspirados em livros. Digo isso com base em duas experiências bem marcantes que tive: o conto "O coração das trevas" de Joseph Conrad, uma visão alucinante e terrível da colonização do Congo, que em mãos hábeis virou o igualmente alegórico e fantástico roteiro do filme Apocalipse Now; e o livro "2001 uma odisséia no espaço" de Arthur C. Clarke, que Stanley Kubrik levou aos cinemas, onde já nas primeiras páginas se descobre que o unipresente monolito tem uma atuação muito mais ativa do que o mero papel de testemunha do desenvolvimento da raça humana que o filme sugere, se é que seja possível atribuir tais "ações" a um objeto inanimado.

De qualquer forma é sempre bom travar contato com a obra. A telona é grande, mas não o suficiente para transmitir toda a gama de informções que os livros em geral oferecem. É bom também para que você tenha a oportunidade de interpretar por si mesmo a estória, sem os filtros dos olhos de outrem, para que esta ganhe a particularidade e intimidade que os bons livros e as boas estória tem.